17/10/2009

Passando ao Amor Digital

A paixão é um sentimento ardente, quente, vibrante e vem acompanhada de um menu de desejos pessoais que queremos satisfazer ou da pessoa que gostaríamos de ser. Aquele por quem nos apaixonamos é o espelho refletido de nossas projeções essenciais, ou daquilo que somos e ainda não conseguimos despertar ou do que jamais seremos, mas admiramos.
A química da paixão é um feitiço, que muitas vezes acaba rápido, outras vezes não e que de vez em quando se transforma em amor. Inevitavelmente, com o tempo, independente do desenrolar do relacionamento, é possível perceber que a paixão foi só uma isca de união, se mostrando um grande aprendizado para a maturidade ou um belo instrumento de manutenção do amor se ambos olharem para a verdade em seus corações. Nesse último caso a tendência é um relacionamento duradouro, onde ambos se preocupam com o crescimento pessoal, profissional e espiritual do outro e assim crescem juntos, constroem juntos uma vida de harmonia e prazer e criam uma esfera de energia que será transmitida ao mundo.
Eu vivi um amor assim, que começou com uma curiosidade e admiração. Era uma paixão proibida, eu era uma criança ainda e meu objeto de admiração tinha dono, muito mais maduro, alguém experiente que já sabia lidar com suas necessidades e possibilidades. Havia envolvimento entre eles!
Cresci e muitas foram minhas paixões... muitas coisas contribuíram para construir a pessoa que vinha se desenvolvendo.
Num determinado momento da vida, realizei meu sonho infantil. Após ler "A Mulher de 30", vivi aquela paixão antiga, com permissão e apoio de seu dono. Meu pai me cedeu sua Nikon FG e todo equipamento complementar para que eu fizesse um curso de fotografia na Escola Panamericana de Arte. Ele realizava meu sonho de possuir a câmera e eu realizava o sonho dele de fazer aquele curso, naquela escola.
O amor brotou entre nós. Ela era cúmplice de minhas visões, idéias, pensamentos, sentimentos e emoções. Eu era desajeitada, ignorante, imatura e muitas vezes não a tratei como merecia por impulsividade e desconhecimento, atitudes próprias de quem é inexperiente numa relação, mas ela sempre me perdoava e esperava meu tempo de aprendizado. Só quem não se perdoava era eu, quando terminava uma sessão inteira e depois via que não a tinha alimentado com filme. Ou que ao enrolar o filme errado, perdia todo nosso trabalho, tão bem desempenhado ( mais por ela). Ela sempre trabalhava arduamente durante a semana tentando captar da forma mais fiel os congelamentos de minhas melhores visões e jamais me deixou na mão. Toda sexta-feira ela me aguardava dentro do laboratório escuro e silencioso torcendo para que eu ficasse feliz e satisfeita em ver nossas imagens captadas surgirem magicamente, pouco a pouco no papel dentro de uma bacia de químicos, iluminadas somente por uma luz vermelha de baixíssima intensidade. Nasciam nossas fotografias!
Infelizmente, somos de gerações diferentes. Fui a última geração da câmera manual na escola e resisti bravamente a digital por amor e fidelidade a mágica da fotografia.
As pessoas, impiedosas, criticavam nosso relacionamento e talvez por se sentir mais responsável do que eu, minha Nikon FG entrou em coma profundo.
Me senti uma traidora, mas precisei me atualizar e comprar uma Nikon D60 para começar a brincar de digital. Não conseguia me entender com ela. Quando não existe química a primeira vista, não é possível iniciar um relacionamento. Da mesma forma que é possível iniciar um relacionamento quando ainda amamos outra pessoa. Muito difícil essa situação, ser obrigada a se apaixonar... sentia raiva e medo ao mesmo tempo!
Estava me sentindo a própria mulher que foi prometida a um casamento, pela família. Agh!
Passado um ano de familiarização com a idéia desse casamento imposto, comecei a enxergar o noivo com outros olhos. Percebi que era bonito, jovem, moderno, cheio de recursos, que poderia me ensinar bastante, facilitar minha vida e me fazer mudar conceitos e padrões. Resolvi me entregar de corpo e alma a minha nova câmera fotográfica digital, a Nikon D60.
Confesso que ela já tem me conquistado, acho que bastará uma sessão de fotos românticas pela Europa, para ela me fisgar de vez!

2 comentários:

  1. Oi...desculpe invadir assim o seu blog, se é que podemos chamar de "invasão", já que os blogs são abertos. Gostei da forma como escreve e da clareza de raciocínio, porém fiquei com uma dúvida...na sua opinião, a vida fica preto e branco sem uma paixão?
    Francisco

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  2. Oi Anônimo! Obrigada pelos comentários!
    Olha, depende o que vc chama de "vida preto e branca" pq pode ter vários significados, da mesma forma que "paixão" tb pode ter vários sentidos, com intensidades diferentes. Ambos podem ser positivos ou negativos, dá para filosofar bem sobre esse tema.
    Mas respondendo a sua pergunta, especificamente para mim a vida sempre é colorida e sempre estou apaixonada, seja por uma idéia, um projeto, uma pessoa, várias pessoas, um livro, etc... E mesmo nos momentos em que a vida fica preto e branco, eu consigo enxergar a beleza nela tb, sem nunca, precisar deixar de me manter apaixonada por qq coisa que seja.

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