12/08/2010

Fotografia Parte I

Era uma vez... uma menininha que gostava de aparelhos com botões e também gostava de mágica.
Todo fim de ano era uma grande festa o mês inteiro, cestas enormes e até baús com muitos presentes chegavam para seu pai nessa época. Havia de tudo, dos chocolates mais finos até... o máximo que ela achava poder ter ali... uma Polaroid. O que? Uma máquina fotográfica que a foto aparecia na hora? Além de ser das mágicas mais sofisticadas, era pura magia!!! A caixa branca, com as listras coloridas e ela lá dentro... ah... parecia algo de outro mundo. Finalmente seu pai chegou em casa para tirá-la da caixinha e demostrar a "mágica". Era noite, então precisaria de flash e lá estavam eles em outra caixinha, tão lindos, quadrados, transparentes com uma coisinha dentro. Faz isso, encaixa aqui, faz aquilo, vira ali e "clic"... aqueles barulhinhos do clic, do flash explodindo em luz e de algo acontecendo por dentro, que delícia ela sentia. O quadradinho queimava e não podia mais ser utilizado e a fotografia saia de dentro da máquina!!! Uau! Mas isso não era o que ela mais gostava... era ficar olhando para o papel, vendo as imagens nascendo e ficando mais nítidas. Esse era um verdadeiro passe de mágica para ela. E ela queria brincar disso, o dia inteiro, mas não podia, porque o papel de dentro da máquina acabava, bem como acabava o flash, além de ser caro esse material e seu pai não dar tanta importância para esse objeto como ela dava. E ali ficava ela, naquela caixinha, como objeto de desejo da menininha, que de vez em quando abria o armário de sei pai só para vê-la lá em cima, inacessível.
Alguns natais passaram até essa menina ganhar de seus padrinhos sua própria máquina fotográfica, uma Kodak. O botão de disparo fazia um barulho estrondoso, era duro e uma coisa mais a outra eram um prazer. Quando ia com seu pai ao laboratório pegar as revelações, era elogiada pelo moço que dizia que ela tinha mãos muito firmes, porque aquela máquina era muito dura (sim, nada sutil) e que era comum saírem muitas fotos tremidas, mas as dela não, eram todas perfeitas. E com esse elogio, ela saía quase adulta da Fototica do Shopping Iguatemi, de mãos dadas com seu pai.
Então ela seguia fotografando, fotografando, fotografando de tudo, seus próprios tênis calçados nos pés, portões, gaiola, gato, caminhões passando, coisas, árvores, tudo. Fazia algumas fotos produzidas também, como colocar sua irmã bebê toda vestida de rosa e encaixar a pequena em sua cama, misturada no meio de almofadas de borboleta, corações e outros formatos, tudo muito rosa e ainda enfiar um óculos de sol cor de rosa na coitadinha. Linda foto. Linda mesmo.
Então, um dia, como sempre fazia, correu para esperar seu pai chegar com o pacotinho do laboratório para ver suas obras de arte. Ver aquele pacotinho amarelo nas mãos de seu pai era tão emocionante como os passeios que faziam de aviãozinho pelos céus da cidade, com direito a frio na barriga. Especialmente naquele dia havia alguma coisa muito interessante que tinha fotografado e não via a hora de ver no papel. Seu pai lhe entregou um pacote tão fininho que a surpreendeu. Quando abriu tinha uma foto, de um close muito bem enquadrado da placa do carro de seu pai. Decepcionada, ela perguntou onde estavam as outras fotos e seu pai respondeu bravo "Mandei revelarem somente as fotos que tivessem relevância e o moço ainda revelou essa porque achou que isso pudesse ser relevante! Chega, não vou mais gastar dinheiro para você tirar foto de muro, porta, pé, pichação, da gaiola do passarinho, se ao menos fosse do passarinho! Acabou a brincadeira!"
É, tinha acabado mesmo. Mais do que a brincadeira, naquele instante, muita coisa tinha acabado, a paixão, o entusiasmo, o interesse, ao passo que algo se agregava e ganhava vida... o sentimento de que os desejos que lhe brotavam ao coração não tinham relevância nem para seu pai e nem para ninguém.
Nesse dia, ela não chorou... mas nunca mais tirou nenhuma foto porque o sentido de "relevância" matou o sentimento mais alegre que havia nela quando as fotos eram reveladas... de enxergar além, de ver beleza onde ninguém via, de fazer as pessoas rirem com as imagens sem sentido, mas mais do que tudo isso... de fazer qualquer coisa insignificante ter o privilégio de ganhar vida dentro de um papel.

Um comentário:

  1. Olá...td bem?
    tenho visitado seu blog, e estou seguindo...acesse meu blog, me siga tbem...me ajuda a divulgar?beijão, valeu...C.Mantovani

    http://www.falarfrancamente.blogspot.com/

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